quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Gotas de chuva

E se beijaram. Deixaram de lado tudo aquilo que fazia sentido, todas as recomendações racionais, as promessas já antes quebradas, e aceitaram o que aquelas gotas de chuva sussurravam em seus ouvidos. Apenas se beijaram.
Enquanto a chuva caía e a cidade cinza tornava-se pouco a pouco preta de guarda-chuvas, todos corriam em busca de abrigo. Todos menos os dois. Para eles, o mundo desacelerava, e cada gota de chuva demorava uma eternidade para alcançar o chão e fazer sua parte nas poças que se formavam.
E naqueles instantes infinitos, enquanto sentiam o gosto um do outro sob a chuva gelada, seus corações se comunicavam, e batiam em um só ritmo. A cada batida dobrada, a cada deslize de mãos, surgia um calor que irradiava-se do centro do corpo até a ponta dos dedos. E derreteram. Liquefizeram-se. Misturaram-se à chuva como duas gotas apaixonadas em queda-livre, sentindo toda a emoção de uma vida.
Brincavam no ar se entrelaçando, ora eram uma só gota, ora voltavam a se dividir em duas. O que mais existe para uma gota que a queda? Eram só eles, eternos por alguns instantes. Duas gotas radiantes em meio a milhões de outras sem brilho, todas com o mesmo destino.
Quando mais próximos do chão, quando mais acalorado o beijo, se solidificaram, e voltaram a ser dois corpos, cheios de dúvidas, certezas e a esperança de, um dia, voltarem a ser duas gotas de chuva.

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