sábado, 20 de fevereiro de 2010

O salto



Respirou fundo ao ver onde estava. A pele morena suada, a respiração ofegante por causa do esforço da longa e íngreme caminhada, somado a um misto de sentimentos que o confundiam naquele momento decisivo – um arco-íris de um milhão de cores cada vez que o ar deixava seu corpo.
Sabia que mesmo no fim de tudo, seria julgado pelo que estava fazendo. Muitos seriam aqueles que apontariam o dedo para chamá-lo de covarde, mas também haveria aqueles que aplaudiriam sua coragem, o que é normal (quantas vezes ele mesmo foi o juiz), mas desta vez – a primeira vez – não se importaria com julgamentos, estava a dezenas de metros do chão, das pessoas que o tentariam o impedir, e iria até o fim. O importante era valer a pena.
Em uma vida inteira de sucessivos erros, cheia de más escolhas, aquela era sua primeira decisão correta, a única solução, o melhor remédio.
Agora que já estava à beira do abismo só restava fazer o planejado, ir em frente, não podia pensar muito, ou então mais uma vez seria atrapalhado pela sua cabeça. Um último suspiro, os olhos fechados e o tempo não corria mais.
Das mãos escorria em forma de gotas o pouco de alma que ainda restava, a boca seca como o mais árido deserto jamais será era incapaz de pronunciar uma única palavra – exceto as necessárias, pois para isso havia se preparado. Naquele momento pensou no que era melhor: tomar distância, correr e saltar, ou apenas deixar o corpo cair, como folhas de uma árvore no outono?
O coração acelerado estava quase para rasgar a pele em busca de mais espaço para bater. Era a hora. De uma coisa sabia, aquela história de que sua vida passa como um filme na sua cabeça era mentira.
Enquanto caía, nada sentia. Agora seu corpo não passava de um bloco de gelo com um mínimo de consciência. Mesmo de olhos fechados, era possível ver a cidade, as luzes, o chão se aproximando, até definitivamente se encontrarem no fim.
A porta abriu, ela estava ali de pé e sorrindo. Tinha valido a pena.

3 comentários:

  1. Doidera mano auhauhauh

    Ficou legal!! Me lembrou uma histórinha, que eu vou colocar no blog daqui uns minutos!

    Flw fiote!

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  2. As pessoas nunca irão entender esse sentimento, no fim o que importa é estar em paz consigo mesmo...

    Pri

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  3. "Naquele momento pensou no que era melhor: tomar distância, correr e saltar, ou apenas deixar o corpo cair, como folhas de uma árvore no outono?"

    Eu adoro ler quando se tem comparações assim Max, como vc fez com as folhas de outono!
    Tá muito bom msm!!
    ÓÓÓ... tah muito calor agora... to com preguiça! Depois eu posto lá no Vaisifu pra vc e pro Julius tah!?
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    beijooo! =D

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